quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

DA TRADIÇÃO À PRATICIDADE

No post anterior, falamos um pouco sobre a história do absorvente. Hoje, é a vez de contar a história de uma pessoa e sua relação com essa invenção tão importante e indispensável para as mulheres.

Sempre gostei muito conversar e ouvir histórias, principalmente contadas por pessoas mais velhas. Sentar no sofá da sala com uma de minhas avós (porque a outra, infelizmente, já morreu) e ouvir suas “histórias de outrora”, por horas a fio, sempre foi uma grande diversão. Essa minha avó se chama Marieta e tem 89 anos. Em uma de nossas longas conversas, saiu o assunto sobre a intimidade feminina e o absorvente foi uma das coisas sobre a qual nós conversamos. Sabendo que ela tinha algumas coisas para falar, resolvi ligar para ela há algumas semanas e pedi para que ela me contasse mais sobre esse tema.

Ela começou falando que essa questão do universo feminino, em sua juventude (passada nos anos 30 e 40), ainda era um grande tabu. Era um assunto muito complicado de se conversar entre amigas e até mesmo entre mãe e filha. No caso dela, foi ainda mais difícil, já que era a filha mais velha e essa situação era nova para sua mãe. Na verdade, nunca chegaram, de fato, a discutir esse tipo de coisa. Minha bisavó orientou sobre o que minha avó deveria fazer quando sua “menarca chegasse” (sim, foi exatamente essa a palavra que minha bisavó utilizou na época), mas sem delongas na conversa.

Minha avó também contou que, em sua época, eram as toalhinhas higiênicas (aquelas do post anterior) que resolviam o problema. É verdade que naquelas décadas o absorvente descartável já começava a aparecer nas prateleiras dos mercados e das farmácias, mas em cidades pequenas e de interior, a tradição das toalhinhas ainda falava mais alto. Essas toalhinhas poderiam ser compradas em lojas de roupas (geralmente aquelas que vendiam roupas íntimas) ou, então, feitas em casa mesmo. Como costurar em casa era um costume muito comum (e necessário) naqueles tempos, fazer as toalhinhas em casa era normal. Comprava-se um pano que fosse confortável (algodão, por exemplo) e que tivesse uma boa absorção, para fazer os absorventes. Nas palavras de minha avó, “funcionava como uma espécie de fraldinha”.

Esse hábito de não comprar nas farmácias e mercados as versões descartáveis dos absorventes era também por conta do tabu. Uma mulher entrar em um desses lugares e sair com um pacote de Modess era uma vergonha e um constrangimento muito grande. Era uma espécie de violação da intimidade feminina, ainda mais em cidades pequenas, em que as pessoas se conhecem e ficam de olho na vida dos outros. “As moças tinham medo de se encontrar com rapazes e eles as virem com pacotes de absorventes nas mãos. Isso era um constrangimento sem tamanho! Era tornar pública a sua intimidade!”

Os anos foram passando e essa realidade se modificou. A praticidade acabou passando um pouco por cima de uma tradição e os absorventes descartáveis passaram a fazer parte do cotidiano feminino. Sobre essa parte, vovó finalizou: “ter um pacote de Modess era tão mais prático e higiênico, que as garotas deixavam o pudor um pouco de lado e acabavam comprando os pacotes nas farmácias e mercados. Mas, no momento da compra, sempre tomavam um importante cuidado: iam somente quando os rapazes não estavam por perto!”.

2 comentários:

Mary Azevedo disse...

Esse tipo de depoimento me faz levantar as mãos pro céu e agradecer por ter nascido na época certa, apesar de tudo. hauhauhauha

Fernanda Reis disse...

Num é? Tempos difíceis aqueles, viu... Rs!